Ele, num sono profundo de quem finalmente se joga na cama depois de um dia inteiro ocupado por uma viagem de avião internacional com uma conexão do meio e a exploração das redondezas do hotel, custou a se situar. A princípio, aquele toc-toc-toc lhe pareceu como se um casal no andar de cima estivesse mandando ver na empolgação, mas logo concluiu que não haveria uma foda vigorosa o suficiente que fizesse o decodificador da TV a cabo despencar da prateleira em frente à cama.
Andréa, apavorada, o sacudia para que tomasse alguma providência, nem que fosse entrar em pânico como ela. Era inútil, porém. Márcio se sentia como se estivesse pregado à cama. Cansado demais para sequer se preocupar, suspirou de alívio quando o tremor de terra acabou.Virou-se para o lado e disse à mulher:
- Já passou. Pode voltar a dormir, vai.
Percebendo que não podia contar com o marido, que havia lhe dado as costas e voltado a ressonar, Andréa se levantou e foi em direção à janela. Lá fora, a vida prosseguia como se nada tivesse acontecido. As ruas continuavam desertas e as poucas pessoas acordadas, em suas janelas de luz acessa, não demonstravam qualquer comoção fora do normal. Talvez fosse o esperado de um lugar onde, nos elevadores, há o aviso "no usar ascensor en caso de incendio o sismo".
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